Depois da curva vem o infinito

É dito que o universo não é estático. Que este se expande a um passo constante, ocupando com espaço o nada que o envolve. Esta é a sua condição, não fosse ele ter nascido assim. Desde os primeiros microsegundos da sua existência o universo consome o imenso vazio com os estilhaços da sua detonação e assim prosseguirá por eternos biliões de anos.
Mas é dito agora que esta expansão do universo está a acalmar, e que eventualmente esta ocupação espacial do nada absoluto que o envolve conhecerá o seu fim. Ora se abranda, pára e ao parar a sua orla definirá o tão desejado e até então desconhecido infinito.
A ideia de que até o universo eventualmente irá conhecer o seu termo põe em causa uma das noções mais aconchegantes ao homem, a ideia de que algo existente é infinito. Que enquanto nós perecemos, o universo persiste indomável e incondicionalmente eterno. Num meio em que tudo morre e tudo termina, algo mesmo que inatingível permanece constante e sem fim. E o infinito existia assim, até agora, para nos dar o conforto de que algo superior à nossa existência persiste.
O conhecimento do fim do universo prenuncia uma ruptura da nossa consciência sobre o absoluto. A descoberta de que a sua expansão está a abrandar é o derradeiro facto que prova a perecibilidade de tudo o que o compõe, incluindo o próprio. A corrida à descoberta do espaço e tempo termina e a descoberta é o fim, a ideia de que tudo acaba e de que a existência não se prolonga eternamente pelas orlas geladas do vazio. Independentemente da sua condição fantástica, matemática ou imaterial, a ideia de infinito permaneceu sempre como um conforto mental de que algo, mesmo que inatingível ao homem, seria completamente infindável e eterno.
O termo do infinito vem lembrar que este afinal nunca existiu fora de um conceito puramente matemático. O infinito deixa de ser aquela curva eternamente exponencial e passa a ser um ponto distante que pode voltar numa curva semelhante, num desenho em ciclo de universos que habitam o vácuo. O paradigma cai por terra e torna-se humano e o infinito conhece enfim o seu fim, para depois voltar ao seu início.


Pista autorama dos anos 90 adaptada para estar suspensa, globos de vidro soprado, ferro, cimento e ligações eléctricas. A peça é interactiva e os carros podem ser postos em corrida através dos comandos. 2013


Expedição, Galeria A Ilha, Porto, 2013
Bienal de Arte Jovem de Vila Verde, 2014

Um agradecimento muito especial ao Cencal da Marinha Grande e aos seus mestres videiros pela apoio e formação em vidro soprado.